Por Fernando Kassab

Todas as vezes que encontro produtos e objetos que falam, converso com eles - nem sempre há diálogo. É um método. Há muitos. Não me explico e nem me passa pela cabeça tentar ser didático.

Quando conheci Lucimara Scomparim, descobri em suas peças um mundo de técnica, bom gosto, design superior, elegância estampada e estilo próprio, a vontade de conversar com eles foi além.

Lucimara é uma força criativa. Suas mãos são o seu melhor resumo. A neta de italianos, artista plástica formada pela PUC Campinas, teve a quem puxar.

Suas mãos falam com ela. Os dialetos são muitos e intensos. Reúnem a força dos imigrantes pioneiros, que pisam mais leve no solo estrangeiro que escolheram para viver, a carreira como diretora do Museu de Arte Contemporânea de Americana, a mãe de Henrique e Carol, a desenhista inteligente, criadora de cores e texturas únicas.

As mãos de Lucimara falam e contam que o marido, Fábio Di Mauro, arquiteto e mestre em engenharia civil, designer e professor universitário, sempre foi o apoio e a admiração.

O mosaico de linguagens de mãos tão vivas reserva um acento especial para suas escolhas. Casa e jardim são palcos para cenas de um lirismo universal.

Na leveza e beleza de tábuas para cozinha, os modelos entram pela porta da frente, em trajes de gala. No jardim, prosa e poesia para entre os verdes.

Quando o dialeto de Lucimara entra no território do bordado, a linha que atravessa o tecido, pelas mãos da própria dublê de artista e empresária, traz um mundo de delicadezas, resgatado pela Ophicina Singular, no ateliê em Americana (SP).

Em desenhos de legumes, temperos e verduras, em flores e hastes, surgem passeios sob o sol, casais sob a lua, crianças em um parque.

Na perfeição do verso do tecido, do acabamento, regra de ouro do bordado, há a redução do ruído, a grandeza do detalhe, a qualidade que nos pega pela mão, em um universo movido pela energia pura e cativante de Lucimara Scomparim.

E minha vontade de conversar com todas aquelas peças, com objetos tão úteis e bonitos, se justifica e fica transparente como a água da nascente de um rio.

 

Fernando Kassab

Jornalista e apresentador, desde 1988.